Diário Evolusa

Há Esperança!

No verão passado, estive no festival Bons Sons, em Cem Soldos, na zona de Tomar. Um festival de música portuguesap, músicos portugueses que cantam em Português. Já ouvira falar deste festival e, no entanto, foi a primeira vez que fui.

Fiquei agradavelmente surpreendida com a afluência e a heterogeneidade das pessoas. Desde crianças pequenas, a jovens adultos e adultos nos entas, desde famílias, amigos e despedida de solteira, desde heterossexuais, homossexuais, queer e outros que tais, desde músicos, curiosos e leigos, de tudo lá havia! E o público maioritariamente português.

Toda esta portugalidade tocou-me profundamente! Bem como a qualidade musical e as letras de acção. E uma em particular, a Canção a Zé Mário Branco, de A Garota Não.

Na altura impactou-me a simplicidade e a sobriedade da música e a força da letra. A mim, e a todos e todas que lá estávamos a avaliar pelo silêncio palpável que se fez sentir no refrão final e no pós-música. E em mim surgiu um “Há Esperança!”, como se a crença nos portugueses e no seu coração corajoso e apaixonado ressuscitasse.

Volvido este tempo, encontro de novo esta música e reparo que a escuto com ouvidos novos. Escuta esta que me vira para dentro e remete ao adormecimento, que cala a voz e fecha a boca, à inércia inactiva e ao entorpecimento da existência. E questiono porque é que a Vida acontece e os desertos grandes secam as fontes e os sonhos, adormecem as vontades de agir e extinguem os fogos das paixões. E reconheço um medo de existir que adia ou até mesmo paralisa. Medo este que não sou eu e que o consigo testemunhar e, nesse mesmo instante, acende-se de novo o fogo do meu coração, coração português corajoso e apaixonado e canto “Liberdade, querida liberdade! e a esperança renasce!”

“E ser um dos que faz, resistência à corrente
(…)
Ser a Revolução, ser a boca que diz
(…)
Liberdade, querida Liberdade
O nosso chão são sonhos e vontade”, in A Garota Não

Por Joana Rebelo

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