Uma tertúlia direcionada a todos os que procuram aprofundar a sua compreensão da Alma e Cultura Portuguesas, dinamizada por Inês Fonseca, que nos convida a Não Esconder Mais e a perguntar, Como poderá ser uma Relação mais Verdadeira entre Mulheres e Homens, para Além da Sociedade Patriarcal?
Enquanto mulher que vive numa sociedade patriarcal, tem sido uma descoberta de como estar em verdadeira relação com os homens, sem comprometer a minha autêntica expressão.
Este é um tópico que está comigo desde que me lembro. Adotei várias estratégias para lidar com esta realidade, desde me tornar a mulher independente que não precisa de homens, até à doce menina de quando precisa de algo de um homem. Mas há um elemento inerente a todas: eu escondo-me sempre.
E nisto, há uma variedade de condicionamentos que emergem: desde o medo do conflito, à dor de não ser ouvida ou à oscilação das crenças de que sou inferior ou superior ao homem, entre muitas outras.
A mudança significativa ocorreu quando parei de nutrir a energia de culpar os homens e tive a coragem de apontar o dedo para mim. A minha intenção era curar a relação com os homens da minha vida e, com todos os restantes com quem inevitavelmente me cruzo, mas neste processo eu encarei qual é a minha participação nesta dinâmica. A partir daí a verdadeira mudança aconteceu e continua a acontecer. Sentir o que há para sentir (o que foi sempre evitado) e só desse ponto é que os vejo.
Enquanto portuguesa, trago na minha experiência o que é viver numa sociedade patriarcal e como isso se manifesta nos homens portugueses, de diferentes idades, gerações, zonas geográficas, escalões sociais e por aí adiante.
Isto não é sobre feminismo, não é uma história de vitimização porque nasci mulher nesta sociedade. Isto é sobre a capacidade de libertação de uma dinâmica em que eu participo e que não é o sinónimo de estar contra os homens. A minha experiência de patriarcado é que os dois sexos sofrem, de formas diferentes. A mim, só me cabe partilhar a experiência de mulher que deseja uma relação com os homens, ao invés de estar contra eles ou imitar um falso poder, sem evitar a realidade em que vivemos.
Há dor? Há, muita.
Mas há também libertação exactamente na mesma medida
Texto de Inês Fonseca